Os que viveram os tempos do PREC lembram-se bem do slogan mais utilizado na altura para apontar ou hostilizar todos aqueles que parecessem não estar configurados á matriz revolucionária / comunista instalada.
Nesses anos de 74 e 75 a única alternativa que se apresentava a quem não se enquadra-se naquela via, era optar pelo apoio ao chamado socialismo democrático. Como sabemos as coisas no Norte passaram de forma diferente.
Ser revolucionário era na altura quase uma obrigação e um dever. O país, a nível de algumas das principais cúpulas no poder, tinha enveredado por uma linha marxista / estalinista.
Fruto desse estado de coisas, a constituição consagrou mesmo como grande objetivo, a construção de uma sociedade a caminho do socialismo.
Por principio e convicção era na altura "reacionário" e paradoxalmente, alguns dos meus amigos mais próximos eram "comunas inveterados", como gostava de lhes chamar. Ao assumir que era reacionário era a consequência de não gostar do modelo politico-social subjacente ás propostas que na altura dominavam o espectro politico e comunicacional.
Para quem conhecia o mundo e muito em particular a forma de vida instalada na U.R.S.S e países lemitrofes, algumas das boas ideias comunistas eram contrariadas pela prática em vigor naqueles países.
O slogan "fascismo igual a comunismo" era o cavalo de batalha da reação.
Sempre me pareceu que as ideologias acabavam por servir apenas para se concretizarem projetos de vida de alguns dos seus defensores.
Com maior ou menor dificuldade, os revolucionários da ocasião depressa se foram integrando no novo sistema que acabou por se implantar.
Tudo isto vem a propósito de algumas intervenções que na semana passada pudemos ver na assembleia da republica. Quando a determinada altura ouvimos dizer "senhor deputado o seu tempo terminou" pudemos ver o rosto sorridente do deputado comunista António Filipe. Estava na altura com as funções de presidente substituto. Via-se que o homem estava satisfeito e mesmo até "inchado".
Lembrei-me do PREC.
Estes não eram aqueles homens que queriam pela via revolucionária alterar o regime politico ?
E agora o que é que querem ou propõem ? O que é que fazem para contrariar esta linha politica que vai ao arrepio de tudo aquilo que são os fundamentos da teoria marxista ?
O que é que propõem os seus sindicalistas ás massas trabalhadoras, para lá de manifestações inócuas e sem qualquer resultado ?
Iresia suprema. Defendem também a tão inadmissível estabilidade ! Lembremo-nos da "repulsa" dos dirigentes da Inter sindical pelos distúrbios verificados aquando da ultima manifestação.
Concerteza que os verdadeiros comunistas devem sentir repulsa pelos seus actuais representantes.
Certamente que não será com esta gente que irão conseguir alguma vez alterar o agora designado sistema democrático.
Será que este também lhes serve ? Já não sentem vontade de vir para a rua gritar ?
Acabámos assim por chegar a um regime politico anacrónico e sem capacidade de resposta ás necessidades do País, onde as ideias servem apenas para serem lançadas ao vento e o que conta é a mesa da sala de jantar onde todos se encontram e onde comem do mesmo prato.
Sinto saudade daqueles que fizeram o Maio de 68.
Sinto saudades do Zeca Afonso.
Sinto saudades de todos aqueles que foram genuínos e sinceros mesmo que as suas ideias não fossem as minhas.
Gosto daqueles que se assumem e combatem mesmo sabendo que uma batalha não faz a guerra.
Sem duvida que fui "reacionário" em 74, assim como sou em 2012.
Continuo a pensar que é exigível um outro tipo de ação politica que permita corrigir a estrutura social e atenuar as desigualdades, propiciando níveis de desenvolvimento que nos possibilitem afastar da espiral de pobreza em que nos encontramos.
O actual regime politico não pode subsistir por muito mais tempo, pois apenas serve a classe politica instalada e os grupos de interesses que a ela estão ligados. Para este combate aceitamos integrar-nos com todos aqueles que façam da ética e dos valores os referenciais obrigatórios a atingir. Sejam quais forem as bandeiras ou as ideologias.
Os amigos não se escolhem e os melhores que tive até se diziam comunistas.
Onde é que andará o Afonso Gradiz?
Como oficial miliciano no R.A.C. em 1970, tudo fazia em prol da melhoria das condições dos soldados ali destacados. Encontrava-se mais vezes nas casernas que na messe dos oficiais.
O Fernando Ribeiro que é actualmente professor numa universidade em Moçambique e que no final dos anos 60 como técnico do SNE - serviço nacional de emprego, prolongava pela noite dentro o seu horário de trabalho para junto daqueles que se apresentavam á procura de emprego os poder ajudar da melhor forma possível.
Estes sim, justificavam as ideias que tinham e comprovavam diariamente um elevado sentido de solidariedade.
O nosso tempo de passagem ficará perdido se nas memórias dos que ficam nada ficar registado que nos possa orgulhar. Por muito pouco que nos possa parecer.
Foi por isso que hoje me lembrei do Fernando e do Gradiz. Com eles presentes, o combate seria mais fácil.
Carlos Luis
TI Portugal apresenta Caderno de Encargos para as Legislativas 2025 e
desafia partidos a comprometerem-se com o combate à corrupção
-
TI Portugal apresenta Caderno de Encargos para as Legislativas 2025 e
desafia partidos a comprometerem-se com o combate à corrupção A TI
Portugal, associ...
Há 4 dias