Este texto de Moisés Espirito Santo merece ser difundido, pois reflecte bem o povo que somos e está adequado ao periodo pós eleitoral.
Dinheiros públicos (e miséria privada)
A grande massa dos portugueses, que vota nos governantes esbanjadores e apoia obras públicas caras e ostentatórias, não tem, no quotidiano, a noção reflectida donde procedem os «dinheiros públicos». Essa massa de ignorantes não pensa nisso; fica-se com a ideia de um cofre inesgotável, dum banco anónimo, dum tesouro mágico. É como se fossem dinheiros alheios ou de «ninguém» que se podem esbanjar e que não carecem de controle popular (nem de prestação de contas).
Será necessário dizer, incessantemente, que os «dinheiros públicos» provêm exclusivamente dos impostos, das licenças, matrículas, multas e outras cobranças, ou extorsões, aos cidadãos. Não são um tesouro mágico. São como a tesouraria duma colectividade.
Se os dinheiros partem em auto-estradas, TGVs, aeroportos, submarinos, automóveis de serviço, jantaradas oficiais, compra de bancos falidos, estádios, piscinas, polidesportivos, rotundas e arranjos urbanos para-saloio-ver (isto é, para o currículo dos políticos), e em pensões milionárias (duplicadas e triplicadas) dos gestores públicos e dos políticos, vai faltar dinheiro para os salários, os incentivos ao trabalho e à produção, para os subsídios de desemprego, a saúde, a educação, as pensões, a assistência aos pobres e os abonos de família. Tão verdade como eu estar aqui.
Esta ignorância, irreflexão ou distracção alimenta a corrupção e a fraude.
«Dinheiros públicos» são como dinheiros de «ninguém», como os caminhos de que cada um se pode servir desde que tenha acesso a eles. Podem ser vistos como «dinheiros do Estado».
Ora, como a grande massa de gente confunde o Estado com o Governo, e como o Governo se pode assemelhar a uma camarilha de malfeitores, «ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão».
Fraudar até pode ser uma garantia de reeleição democrática («Ele rouba mas faz»,
«É esperto...»). Esta tolerância popular com a corrupção e a fraude aumentou com a democracia. Constituiu um traço do parasitismo,uma forte componente da mentalidade portuguesa.
O Correio da Manhã lançou uma petição para a discussão no Parlamento duma proposta de lei nesta matéria. Louvável. O problema é que as leis, para serem praticadas, necessitam dos governos enquanto os governos democráticos,como os que conhecemos desde há trinta anos, são cúmplices dos corruptos.
A democracia chega a confundir-se com uma fraude. Um autarca que esbanja milhões em luxos públicos - para o seu próprio currículo político - que instaura uma piscina ou um polidesdeportivo em cada freguesia de mil habitantes, que abre rotundas, estradas,
infraestruturas pelos campos fora para servir uma vivenda isolada, diz que essas obras foram pagas «com dinheiros públicos». Nunca diz: «fruto dos sacrifícios dos contribuintes».
Se os cidadãos reflectissem que esses empreendimentos (construídos para o currículo pessoal dos políticos) estão aí em prejuízo dos gozos da saúde e da educação gratuitas, do subsídio de desemprego, dos abonos de família, das reformas, da assistência aos mais pobres e da alimentação doméstica, isto é, o que se gastou aí vai faltar para a equidade social... eu podia jurar-vos que, aquando das respectivas inaugurações, esses governantes gastadores dos dinheiros colectivos (se não apropriadores dos mesmos), deveriam ser recebidos não com aplausos mas com vaias, palavrões e, até, com gestos menos próprios como, por exemplo, à tomatada e à pedrada [«Esta sua obra contribuiu para a nossa pobreza! O seu projecto de currículo pessoal produz miséria geral!»].
O problema é que são as culturas quem engendra as respectivas elites, daí que os povos têm as economias que merecem.
Já a maior parte dos «dinheiros de Bruxelas» (a nova visão dum D.Sebastião) se foi em carros topo-de-gama, casas luxuosas e paraísos fiscais. Os ministros de há 20 anos vangloriavam-se de que entravam em Portugal, de Bruxelas, «tantos milhões de contos por dia». Inúmeras siglas públicas e privadas chuparam esses
milhões, sem controle.
A decadência em que entramos também é o resultado desses parasitários «dinheiros de Bruxelas». Eles criaram a subsídio-dependência, afastaram os jovens do gosto do trabalho e deram cabo da agricultura e da pesca, passando nós a importar o que comemos. Quer dizer, acentuaram o tradicional parasitismo da mentalidade portuguesa.
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Portuga...
Há 2 dias
6 comentários:
Artigo de opinião publicado no Jornal de Leiria:
Favorecimento, corrupção, gestão danosa, clientelismo...
O título deste artigo é composto
por apenas algumas das palavras
mais ouvidas, mais lidas,
mais comentadas e com menos
consequências na actualidade.
Diariamente, as ouvimos, diariamente conhecemos
mais um caso, nunca lhes sabemos
as consequências.
Há pouco tempo eu e mais umas dezenas
de pessoas passámos por um concurso
público de importância significativa na
região. Naquele em que estava integrada,
na dúzia de pessoas que prestaram provas,
os resultados foram: um “18” e todos os
outros “inferior a 9,5”. Mais do mesmo,
pensaremos todos. E de facto, vai-se tornando
um hábito entrarmos nestas encenações
de concursos públicos, onde os lugares
estão há muito preenchidos.
Não posso deixar de manifestar o meu
total sentimento de repugnância por isto.
Em primeiro lugar, as pessoas (candidatos
a candidatos) criam expectativas, a partir
do momento em que concorrem a um concurso
público para o qual estão habilitadas.
Depois, perdem parte do seu tempo
para se prepararem, finalmente, faltam ao
trabalho para prestarem provas. No final,
é publicada uma pauta desavergonhada,
desrespeitosa e até ofensiva.
Eu não me calo porque acho inadmissível
que se façam diariamente estes espectáculos,
que envolvem a vida de milhares
de pessoas, no pressuposto do “vamos lá
fazer o concurso porque somos obrigados
a isso mas já sabíamos antes de começar
quem ia ganhar”. Um concurso público é
um jogo. Como no futebol, tem jogadores,
tem árbitros, tem ganhadores, tem derrotados,
tem influências, abusos de poder,
corrupção, favorecimentos. No futebol,
aceitamos estas pequenas máfias, nos concursos
públicos fazemos o mesmo.
Porque não, à semelhança do que se faz
nas empresas, acabar com esta perda de
tempo e de dinheiro, acabar com esta palhaçada
e assumir os favorecimentos? Ganhávamos
todos: os que concorrem ganhavam
tempo e dinheiro, os que já sabem que lá
ficam, ficavam, os que mandam poupavam
em actores e em recursos.
Porque deixamos que isto aconteça tão
impunemente todos os dias? Temos medo?
De quê? De quem? Onde é que vivemos?
Deixamos que isto se passe todos os dias
porque acima de tudo, nunca ninguém foi
ou é responsabilizado porque escolheu o
mais incompetente, porque geriu mal, porque
prejudicou a instituição e o País. Mais
do que nunca, estou certa de que o favorecimento,
a corrupção, a gestão danosa,
o clientelismo só diminuirão (acabar será
difícil) no dia em que a responsabilização
judicial seja um facto. No dia em que quem
gere mal responda por isso, quem favorece
terceiros responda por isso, quem deixe
o país de tanga responda por isso.
Claro que é idílico, utópico e até um
pouco ingénuo mas no dia em que eu deixar
de acreditar que falar, escrever, denunciar,
protestar, vale a pena, então eu já não
serei eu, como me conheço.
Por isso, não sou seleccionada nos concursos
mas venho aqui escrever sobre eles,
em nome dos muitos milhares que como
se sujeitam a este ridículo papel. Por isso,
sempre que for vítima deste sistema terceiro
mundista, fundado no medo, cá estarei
para dizer: Medo de quê? Medo de
quem?
PATRÍCIA ERVILHA
patricia.ervilha@gmail.com
É imperioso acabarmos com os ladrões, antes que eles acabem connosco!
Portugal é um país demasiado pequeno para tanto ladrão.
Quando os dinheiros públicos não são roubados, são, regra geral, gastos em obras supérfluas e sumptuosas (obras de fachada que fazem arregalar os olhos aos parolos), e apenas servem para perpetuar a vaidade dos seus mandantes.
ACABEMOS COM ESTE REGABOFE, POIS O FUTURO DOS PORTUGUESES ESTÁ CADA VEZ MAIS COMPROMETIDO!
Discurso claro e lúcido.
É fiél,o retrato robot que o sociólogo captou.
Mas porque as pessoas honestas e lúcidas andam arredadas do ecrã e das páginas dos jornais,o grosso da população anda ao sabor das aldrabices e manipulações das quadrilhas políticas,vulgo partidos.
Se eu presidisse ao MP,aproveitava as listas partidárias às legislativas e autarquias para saber quem devia pôr atrás das grades.A investigação policial neste país está grandemente facilitada.Poupa-se muito dinheiro aos contribuintes e tempo para recuperar a economia nacional.
Artigo de opinião de Henrique Neto, publicado no semanário Jornal de Leiria:
Crónicas sobre o futuro
A falta de credibilidade do
Governo acentua os problemas
Praticamente todas
as semanas o
Governo tem de
recorrer ao mercado,
ou a outras
entidades e governos
estrangeiros, para obter os
financiamentos de que absolutamente
necessita. Ontem o
Governo fez mais dois leilões
da dívida pública de curto prazo,
da ordem dos 1,25 mil
milhões de euros. Como sabemos
pela dívida já negociada,
os juros têm subido a ponto de
muitos especialistas e entre eles
um prémio Nobel, considerarem
a situação insustentável e,
digo-o eu, criminosa para as
futuras gerações. Além disso, o
Governo tem, aparentemente,
obtido empréstimos de entidades
e governos estrangeiros,
cujas exactas condições, nomeadamente
de juros, não são conhecidas.
Ou seja, o presente e o
futuro dos portugueses está a
ser hipotecado, sem que a Assembleia
da República cumpra o
seu dever de saber em que condições
e sem que os portugueses
sejam informados do que
os espera, para além dos sacrifícios
que lhes são pedidos.
Além disto, o que já não seria
pouco, acontece que o primeiro
ministro durante os primeiros
quatro anos da sua governação
negou sempre as dificuldades
da economia portuguesa
e acusou todos aqueles
que o avisaram dos erros da
política económica e sobre os
perigos óbvios do endividamento
excessivo, de serem pessimistas
e miserabilistas e continuou
a conduzir o País para
uma das mais graves crises da
sua história. Não contente, José
Sócrates sonha ainda com mais
obras públicas para entregar às
empresas do costume, mantém
os ordenados milionários de
muitos supostos servidores do
Estado, recusa-se a combater a
corrupção que corrói o tecido
económico e insiste que “Portugal
não precisa do FMI”. Recentemente
afirmou mesmo: “ Eu
tenho um plano, o PS vai salvar
Portugal do FMI”.
Se tudo isto não é razão suficiente para
averiguar do estado da cabeça
do primeiro ministro, então é
porque são os portugueses que
precisam de um internamento
tão rápido quanto possível por
masoquismo.
(continua...)
(continuação...)
Claro que nestas condições
as organizações internacionais
que nos emprestam dinheiro
terão as suas dúvidas e, assim
sendo, expressam-nas subindo
os juros. Pensam, provavelmente
bem, que apesar de
tudo os portugueses são gente
séria e acabarão por pagar
as suas dívidas e os juros crescentes,
o que nem será mau
negócio. Todavia, a continuarem
os sinais repetentes do
autismo governamental e a economia
não cresça, como é previsível
que não cresça, a situação
mudará muito rapidamente
e não será para melhor. Note-se
que o FMI já perdeu a inibição
e colocou em causa a
credibilidade do Governo Português
ao afirmar, com a nota
habilidosa de colocar a questão
na boca do Governo: “ Estamos
simplesmente a assinalar
que o Governo não pretende
aumentar a consolidação orçamental
projectada em 2011,
mas sim aumentar a sua credibilidade.”
Para bom entendedor
e como resumido pelo
Diário de Notícias: “FMI assinala
problemas de imagem nas
contas públicas”, ou noutro
local, “As medidas de redução
do défice público anunciadas
pelo Governo nos últimos meses
chegam e sobram, mas subsiste
um problema de credibilidade
na sua tradução prática,
assinala o FMI.”
Também, durante a recente
campanha eleitoral, o Presidente
da República respondeu
a questões dos jornalistas sobre
as medidas de combate à crise
da forma sibilina que se
conhece: o Governo disse que,
ou o Governo prometeu publicamente
que.... Isto é, o Presidente
da República Portuguesa,
responsável maior pelo nosso
regime democrático, fez
exactamente o mesmo que o
FMI, ao colocar na boca do
Governo as afirmações em que
obviamente não acredita. De
contrário teria usado uma outra
linguagem mais compatível
com as suas funções e com a
vantagem de dar confiança aos
credores internacionais e aos
portugueses.
Em resumo, existe um problema
sério de credibilidade
do primeiro ministro para reconduzir
Portugal ao domínio da
racionalidade, da competência
e do bom senso, que é como
quem diz do bom governo, um
Governo capaz de resolver os
problemas nacionais. Infelizmente,
este primeiro ministro,
para além dos problemas que
criou a Portugal nos últimos
cinco anos, tem agora o problema
da falta de credibilidade,
nacional e internacional,
o que aumenta os custos e
acrescenta dificuldades há já
muito difícil vida dos portugueses
HENRIQUE NETO
empresário
netohenrique8@gmail.com
Parasitismo é, de facto, a palavra chave. O pior é que só podemos correr com eles de quatro em quatro asnos. E, mesmo assim, há quem não aproveite.
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