quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A massa de que são feitos

Perante os factos e situações que vão ocorrendo, talvez se justifique uma pequena pausa, ou antes, uma postura analítica focalizada nos responsáveis pela construção social, económica e politica que configura o actual estado da Nação.
Por outras palavras.
Quem é esta gente ? De onde é que veio ? Que formação têm? Qual o estatuto familiar ou histórico que transportam ? O que é que realizaram na vida ? Em que experiências é que participaram ? Qual o curricullum de vida que apresentam ?.......
Tudo isto para colocarmos a grande questão.
Como é que foi possível estarmos a ser enganados durante tantos anos por gente sem qualificação nem créditos adquiridos e só agora começarem a despontar alguns focos de contestação ?
Se olharmos para os actores que durante 35 anos têm "mexido" nas coordenadas politicas do País sentiremos um vazio quase total na maioria dessa gente !
Teríamos mesmo muitas duvidas em dar-lhes algum lugar de responsabilidade em qualquer das empresas que tivemos.
Alguns roçam mesmo a boçalidade e não estamos só a referir-nos aos tais Linos, Pinhos ou Pereiras, podíamos mesmo continuar com muitos outros. Às vezes parecem ter sido apanhados de surpresa e colocados num qualquer Ministério, mesmo sem terem conhecimentos ou vocação para tal.
Numa análise fria, temos mesmo que concluir que o que se tem passado nada mais tem sido que a gestão selectiva de incompetências de forma a nunca porem em causa as estratégias das cúpulas dirigentes dos principais partidos surgidos após 74.
Nesta sucessão histórica alguns destes personagens são marcantes, pois souberam aproveitar a onda que permitiu mantê-los ao sabor da corrente e da história.
Souberam sobre tudo usar a estratégia do OMO e do TIDE, ao criarem dois produtos iguais apenas com rótulos diferentes.
Embora o marketing se tenha esforçado por explicar as vantagens de cada um, o certo é que a roupa acabou sempre por ficar com as nódoas fosse qual fosse o produto utilizado.
Pensamos que a história talvez não tivesse sido a mesma com Francisco Sá Carneiro.
E isto porque nos parece que muito para lá dos pressupostos ideológicos, a principal riqueza das Nações advêm do carácter e da postura das gentes que a integram.
Um Sócrates, um Silva Pereira, um Mesquita e outros que tais, nunca passariam de carregadores de malas se por acaso vivessem na Suécia, ou na Dinamarca, ou na França, ou na Inglaterra, ou....em qualquer outro País da Europa.
Aqui, pasme-se, um é primeiro ministro, o outro ministro da presidência, o outro já foi ministro da justiça e o rol continuaria se necessário fosse.
E isto é possível porquê ?
Porque, por infelicidade nossa, somos o povo menos evoluído e educado da Europa.
Isso se deve em grande parte á Igreja e aos poderes políticos que ao longo do tempo por aqui têm encontrado campo fértil para as suas práticas.
Quando "os novos tempos" permitiram outras aberturas, as classes emergentes nada mais precisaram que "instalar a tenda" e fazer a sementeira politica e ideológica que ia ao encontro da vaga geral e que lhes permitiu sobre o mesmo povo manso ir desenhando as estruturas da sua implantação na sociedade, distribuindo tarefas, avenças, colocações, contratos, cargos, criando e duplicando organismos, etc, etc e deslumbrando-se com os milhões que entravam e entram da Europa e as fortunas que iam e vão fazendo e os empregos que se vão estendendo aos filhos, ás mulheres, aos sobrinhos, aos amigos, ás gentes do partido.....etc.
Com tantos interesses a gerir tinham que se assegurar da impunidade necessária para muitos dos actos "menos lisos" que iam praticando.
E foi fácil. Quase por mutuo acordo ou grande maioria, puseram em prática essa ofensa maior á nossa inteligência e que é o chamado Sistema Judicial moldado á protecção de políticos corruptos. E não falha. Veja-se o caso Freeport, apenas um exemplo.
E quem são os obreiros maiores deste embuste ? São exactamente aqueles que vemos de novo na praça publica a tentarem justificar e defender os actuais agentes que lhes garantem as benesses já adquiridas.
Isto como se vivêssemos num País a dois níveis. O deles e o dos restantes 98% da população.
Entendem agora que o Estado não deve fazer gastos sociais quando os destinatários podem estar a encobrir rendimentos. E até têm alguma razão, pois vendo bem este é o povo que os gerou e eles sabem bem a massa de que foram feitos. Trata-se apenas de um problema de escala.
Como têm quase a certeza que os mais pequenos são vigaristas ( lá está a tal massa ), mas não dispõem de nenhum sistema de encobrimento, vão exigir acesso ás contas bancárias.
Tudo bem. Á que respeitar o Erário Publico!
Bom, e os grandes vigaristas e corruptos ? Como é que este mesmo Estado quer resolver o problema ?
Vamos ter acesso ás contas dos políticos sob suspeita ?
É que o verdadeiro ROUBO não são alguns apoios miseravelmente concedidos.
Os roubos que continuam impunes são aqueles que estão a levar este País á bancarrota e em que estão envolvidas muitas das principais personagens politicas originadas no Abril de 74. Estes são os grandes responsáveis pela situação de miséria que vamos deixar ás próximas gerações..
Está na altura do POVO exigir a comprovação da proveniência dos rendimentos desta escumalha politica que não tem vergonha e por enquanto ainda nem tem medo.
A ilusão no entanto pode ser passageira.
Isso, se nós quisermos.

posto por Carlos Luís

4 comentários:

JotaB disse...

Porque hoje é 5.ª feira, porque hoje é publicado o semanário “Jornal de Leiria”, porque gosto de ler as opiniões de Henrique Neto, nele publicadas, porque gosto de as levar ao conhecimento de outros, aqui trago o seu último artigo:
Crónicas sobre o futuro
A sabedoria no governo dos povos (2)

A semana passada falei
aqui da sabedoria,
como elemento central
no governo dos
povos. Esta semana,
José Sócrates fez duas intervenções
públicas que, pela negativa,
demonstraram o meu ponto de
vista. A primeira intervenção foi
acerca da decisão da Procuradoria
Geral da República de o deixar
de fora do processo Freeport.
Um estadista sábio teria ficado
calado por inúmeras razões: porque
se verdadeiramente inocente,
um estadista sábio confiaria na
inteligência dos cidadãos para retirarem
do processo as suas próprias
conclusões; porque o processo
ainda não acabou e existe
uma forte probabilidade, a julgar
pelos elementos publicados e nunca
explicados, que o tema volte à
ribalta jurídica ou politica; porque
a arrogância, no momento da
vitória, nunca é boa conselheira
e volta-se sempre contra o próprio;
porque saberia, tal como José
Sócrates sabe, que a justiça não
cumpriu minimamente o seu papel
e que mais tarde ou mais cedo esse
facto seria conhecido; finalmente,
um estadista sábio funciona
em função do seu papel na história
e não por força de interesses
pessoais.
Os meios de comunicação já
começaram a explicar aos portugueses
as muitas dúvidas que ficaram
por esclarecer em todo o processo
Freeport. Desde logo, os muitos
anos em que o processo esteve
parado. Seguidamente, os recursos
de investigação sempre foram
escassos e a falta de cooperação,
estranha, das policias inglesas e
até as causas de um incêndio providencial.
Depois, as pressões politicas
feitas sobre os procuradores
do processo. Finalmente, qual a
razão porque a União Europeia e
as autoridades ambientais portuguesas
chumbaram por duas vezes
o projecto devido à sua localização
numa zona protegida, tendo
depois sido aprovado, a três dias
do fim do Governo Guterres, sem
mudar de localização. Porventura
mais importante, qual a razão
de José Sócrates se ter preocupado
tanto em substituir o anterior
Procurador Geral da República,
mesmo antes de tomar posse como
primeiro ministro, sabendo-se que
as intervenções do actual Procurador
têm sido providenciais para
o primeiro ministro.

(continua...)

JotaB disse...

Até que tudo
isto seja esclarecido, contínuo a
considerar José Sócrates culpado
de, como ministro do Ambiente,
ter aprovado um projecto anteriormente
reprovado, sem fundamentar
as suas razões e que, de
acordo com critérios ambientais e
até urbanísticos, não deveria estar
naquele local. Se alguém recebeu,
ou não, dinheiro por isso, é neste
caso o que menos conta, ainda que
seja muito importante saber para
onde foram os muitos milhões de
euros que, directa ou indirectamente,
saíram dos cofres da empresa
inglesa.
A segunda intervenção, desnecessária
e pouco sábia, de José
Sócrates, foi para se vangloriar
com a solução encontrada para o
imbróglio criado pela utilização
da golden share no negócio da
Vivo. Neste caso, a questão é bastante
mais simples e mais rapidamente
se verificará que José
Sócrates nunca pretendeu defender
o interesse nacional, evitando
a venda da participação na
Vivo, como não defende minimamente
o interesse nacional com
a solução encontrada de adquirir
uma posição minoritária, sem
qualquer possibilidade previsível
da PT mandar na empresa. Ou
seja, o primeiro ministro deveria
trocar por miúdos a afirmação feita
de que a operação preserva o
interesse estratégico da PT e de
Portugal. A esse respeito, no último
número do jornal Expresso foi
publicado um texto de José Vieira
Pereira, com o título Vender a
Vivo D,OI, que diz tudo o que penso
sobre o assunto: “1-A PT foi
obrigada por Sócrates a ir, a correr,
às compras no Brasil. É claro
que PT acabou por pagar um preço
muito superior por uma participação
minoritária no quarto e
último operador móvel do Brasil
(é líder no fixo). Se era para vender,
mais valia encaixar os 7,5 mil
milhões e, depois, com calma,
negociar a entrada noutro operador.
A golden share afinal, acabou
por custar dinheiro à PT, muito
mais do que os 350 milhões que
a Telefónica deu. O mercado avalia
que a posição na Oi vale 2,8
mil milhões, a PT comprou-a por
3,7 mil milhões. A diferença (900
milhões) pode ser muito bem quanto
a pressa de Sócrates custou à
PT”. Moral da história: a ignorância
atrevida e poderosa no
governo dos povos pode transformar
oportunidades em fracassos
e conduzir os países para a
irrelevância e o atraso.

HENRIQUE NETO
empresário
netohenrique8@gmail.com

Força Emergente disse...

Amigo João
Henrique Neto é dos mais lúcidos interventores na Comunicação social. Será sempre bom trazê-lo até aqui.
Este exemplo da PT e as intervenções de sócrates, refletem bem a falta de consistência do mesmo, assim como da "oposição" politica instalada. Se não serão de esperar grandes rasgos de um Passos Coelho, por onde é que anda por exemplo um Francisco Louçã, pois esta matéria até é da sua especialidade!
Esta ineficácia negocial, assim como mais uma decisão gravosa para o erário publico não seriam de analisar e expor ?
Mas não. A classe politica está toda à defesa, pois sabe que se agitar muito as águas, acabam por sair todos molhados.
Assim e porque o PC e o BE também apoiaram aquela "estratégia de defesa dos interesses nacionais", depois, perante o "desastre". o melhor é ficarem calados.
Um abraço

joshua disse...

Trabalhemos por que tenham medo, tenham muito medo por causa dos seus lixos. Abraço.