domingo, 29 de agosto de 2010

Portugal dos Pequenitos Mal-Entendidos

O PSD diz que só vota a favor do Orçamento se for feita uma Revisão Constitucional. Sócrates sentindo-se ameaçado pela proposta do PSD acusa-o de chantagem política e de demagogia. Passos Coelho depois corrige e diz que não foi nada disso que disse e que as políticas de Sócrates são irresponsáveis e irrealistas. o PS entra em defesa do seu Altíssimo, e vem a público dizer que o PSD não está a fazer uma oposição responsável.

Depois vem Portas e diz que PSD e PS andam a fingir que andam "à bulha". Que são uns fiteiros e que no final aprovarão o Orçamento juntos, como aliás já estará combinado "secretamente". Mas para o povinho continuar a ter telejornais onde não falem só dos fogos, há que criar intriga política, para encher pelo menos metade da programação "informativa".

Para rematar, porque Portugal, apesar de ser pequenito, tem um Presidente da República, também este Altíssimo representante do Estado Português vem esclarecer que PS e PSD não deviam "andar à bulha" e que deviam mas era aprovar o Orçamento de Estado, talvez até para demonstrarem que na Assembleia da República se trabalha muito. E achou muito estranho ter ouvido algo sobre Revisão Constitucional, porque as suas fontes, até talvez altamente secretas, lhe disseram que não havia nenhuma Revisão Constitucional em curso.

Enquanto o mundo se prepara para uma eventual III Guerra Mundial, Portugal, uma jangada de pedra à deriva, continua a "boiar" sem se afundar num Atlântico de águas calmas... No país onde Presidentes e Prémios Nóbeis não se cruzam, nem mesmo em funerais solenes, o povo mais parece ser um epitáfio vivo, uma homenagem viva à antevisão profética de Saramago: o "Elogio da Cegueira". Uma dica: se tiver de fazer cirurgias aos olhos, não as faça em Portugal... Num país de cegos, que cirurgião é que pode ser capaz de trabalhar em boas condições?

posto por Pedro Duarte

3 comentários:

JotaB disse...

Crónica semanal de Henrique Neto, publicada no semanário Jornal de Leiria:

Crónicas sobre o futuro
O desastre da Justiça
O futuro previsível

Enquanto José Sócrates
e Passos Coelho se
digladiam em comícios
de mera propaganda
politica, na
expectativa de melhor enganar os
portugueses com vista a umas quaisquer
eleições futuras, o futuro da
economia portuguesa está em grande
parte traçado. Após uma década
de estagnação económica e de
empobrecimento relativo, por comparação
com a União Europeia,
chegaremos a 2013/2014, quando
se inicia o pagamento da maioria
das parcerias público privadas, em
piores circunstâncias do que aquelas
que temos hoje. Porque enquanto
o PSD e o PS discutem o poder,
é disso que trata toda a algazarra,
o endividamento público e privado
continuará a crescer por ausência
de uma estratégia para o desenvolvimento
e de políticas sérias que
conduzam a uma profunda mudança
na capacidade dos governos e
em muitos dos hábitos dos portugueses.
No primeiro semestre deste ano
o Governo aumentou a despesa
pública quase mais de 500 milhões
de euros do que o previsto e o Estado
já recorreu este ano a mais endividamento
adicional do que em
todo o ano de 2009. Tudo isso quando
o discurso oficial é de que vivemos
em tempo de crise e de contenção
da despesa. O que seria então
se a crise não existisse e todos os
apetites dos políticos no poder
pudessem ser satisfeitos, quer directamente
pelo Estado quer pelas
empresas em que o Estado tem
algum poder? Por exemplo, acabamos
de saber pelos jornais que
o ex-ministro Manuel Pinho está
a estudar nos Estados Unidos a
expensas da EDP. Depois de ter a
EDP sob a sua tutela política durante
quatro anos, Manuel Pinho não
teve qualquer pudor em aceitar os
favores de António Mexia, que
Manuel Pinho colocou na presidência
da empresa. É com este
modelo de favores privados com
dinheiros públicos, mas também
com o dinheiro dos accionistas privados,
que José Sócrates governa
o País. Falta de decência do
Estado, certamente, dos governantes
e ex-governantes que aceitam
estes favores, sem dúvida,
mas também dos próprios accionistas
privados que, no meio da
podridão reinante, não têm a
coragem de dizer basta.

(continua...)

JotaB disse...

Estas crónicas, como o seu nome
indica, têm como objectivo principal
tentar desvendar algumas das
interrogações acerca do nosso futuro.
As previsões feitas ao longo do
tempo, que já é longo, têm sido
geralmente correctas e tenho algum
orgulho nisso. Todavia neste caso
não há nenhuma dificuldade em
prever a degradação da situação
económica e social portuguesa, no
mínimo até 2014. Porque, a menos
que entretanto surja petróleo em
abundância no nosso território, ou
um qualquer outro milagre semelhante,
nos próximos anos vamos
ter de pagar os erros cometidos por
sucessivos governos, muitos dos
quais aqui apontados com frequência.
Recordo, por exemplo, os
milhares de milhões de euros que
foram investidos no Brasil, sem que
esse investimento, na sua maioria,
tenha tido qualquer retorno, ou
sequer tenham sido quantificados
os seus resultados. Ou a enorme
transferência de riqueza que passou
pelos bolsos de milhões de portugueses,
pela via do endividamento
bancário, para os especuladores
imobiliários e autarcas corruptos.
Ou o investimento feito em
novas auto-estradas, sem qualquer
critério logístico ou económico e
atirando o pagamento para um
futuro incerto. Ou os milhões gastos
em sobrecustos nas obras públicas,
ou os muitos milhões pagos
em estudos e assessorias de utilidade
duvidosa a empresas privadas,
cujos sócios constituem hoje
uma nova classe de ricos. Ou ainda
a gigantesca serpente da corrupção
que ameaça subverter a
economia do trabalho e da legalidade.
Sem esquecer a negligência
e a ignorância com que foram tratados
sectores-chave da nossa economia
produtiva.
Neste contexto, o desastre da
Justiça portuguesa não é um acidente
inexplicável, mas traduz a
vontade política de proteger uma
parte da sociedade portuguesa que
enriqueceu à custa dos favores do
Estado, da corrupção e das solidariedades
reinantes: nos partidos,
nas empresas públicas e nas
autarquias. Coça-me as costas que
eu coço as tuas, é um dito muito
popular nos Estados Unidos para
designar o comércio de favores,
uns mais ilegais do que outros,
mas todos a destruir as energias
dedicadas ao trabalho e à defesa
da ética do progresso colectivo da
Nação. Como diz o povo, quando
se semeiam ventos colhem-se tempestades
e é apenas isso que está
a acontecer.

HENRIQUE NETO
empresário
netohenrique8@gmail.com

JotaB disse...

ERRATA
No título da crónica deveria ter aparecido apenas:

“Crónicas sobre o futuro

O futuro previsível”