sábado, 21 de abril de 2012

Saúde mental

O estado em que se encontra a Nação é de verdadeira calamidade, seja qual for a óptica em que nos possamos focar. É quase absurdo continuarmos a ouvir dizer que estamos no bom caminho.
Este texto do médico psiquiatra Pedro Afonso, reflete bem as consequências das irresponsáveis políticas que têm sido seguidas.

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária.
Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.


Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.


Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público.
Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.


Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.


Este é o país que a miserável classe política instalada vem construindo há 38 anos. O resultado foi continuarmos orgulhosamente sós na cauda da Europa. E quando estamos em primeiro é sempre pelas piores razões como no caso da saúde mental.
A mentira, a farsa, o roubo, a gestão de interesses pessoais em detrimento do interesse público, conduziram ao descalabro em que se encontra a nossa economia e à debilidade mental de uma população carente de valores e referências que possam incutir força e dinâmica para se conseguir ultrapassar a presente situação.
Será bom que aqueles que ainda têm o discernimento suficiente para perceber o tremendo embuste que foi sendo construído ao longo dos anos a coberto das bandeiras do socialismo e da democracia, entendam finalmente que aquilo a que nos conduziram pouco mais é que um fosso de desigualdades em que mais de 80% da população continua a viver em precárias condições e onde cerca de 5% dispõem de quase 90% do rendimento excedentário do País.
Esta miséria tem que terminar e já é tempo de passarmos á contestação ativa. Enquanto o não fizermos, nada se irá alterar.
Carlos Luis

7 comentários:

bibónorte disse...

Obrigada por este texto.Do fundo do meu coração.

aveiro123 disse...

Gostei do vosso artigo, relativo à Saúde Mental dos portugueses, reflecte bem o estado a que chegamos.
Cumprimentos,
Joaquim Carlos
Blog: aveiro123-portaaberta.blogspot.com

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=HNErd556bGA&feature=youtu.be

Diogo disse...

Isto não vai lá com boas maneiras….

Anónimo disse...

Excelente artigo, mas pelas piores razões. Na verdade, é muito cruel ver a classe política e não só, usufruir de todas as regalias, com bons ordenados, pensões obscenas e com meia dúzia de anos de serviço prestado, assim como organismos estatais e empresas públicas serem excepções quando se trata de cortes nos seus rendimentos. A classe política pós-25/4, pôs Portugal economicamente muito pior do que no anterior regime. Não sou monárquico, mas há 100 anos que a República tem destruído sistematicamente os alicerces do nosso País, importando os piores exemplos dos outros povos, e delapidando o que de melhor poderíamos exportar, ou seja, aquilo que poderíamos produzir e não produzimos pela inércia dos nossos governantes.
As despesas do estado, nunca emagrecerão enquanto não cortarem com os privilégios de todos aqueles que se julgam deuses e intocáveis pais da Pátria, recebendo benesses que por si só, já conseguem enlouquecer qualquer chefe de família que tenha dificuldade em manter a sua casa e prover de tudo o que é minimamente necessário para alimentar os filhos.
Por tudo isto, não admira que as doenças mentais comecem a alastrar de modo vertiginoso, nada augurando de bom no futuro próximo.
Nada há de mais perigoso do que um Pai desesperado que nada tem para dar à sua família. Atenção pois...

JotaB disse...

Fio de Prumo
Contas furadas

O ministro Vítor Gaspar veio para o governo com dois objectivos: empobrecer os portugueses e equilibrar as contas públicas. E se o primeiro está praticamente conseguido, o segundo redundou num estrondoso fracasso. Os portugueses estão mais pobres, não há dúvida.

O aumento das taxas de imposto e a redução generalizada de pensões e salários degradaram o nível de vida. Com empresas a fechar diariamente, o desemprego atingiu um valor recorde. Enquanto isso, as medidas de Gaspar são comunicadas de forma ambígua, como a do prazo de supressão dos dois subsídios aos funcionários; ou são anunciadas de supetão, como foi com a proibição das reformas antecipadas. A ambiguidade e a surpresa provocam um ambiente de incerteza que paralisa os investimentos e gera o pânico nos cidadãos.

Entretanto, todas as medidas fiscais tomadas pelo governo relevaram-se contraproducentes. O aumento das taxas de imposto levou à redução da colecta. Ao contrário do que previa Gaspar, a receita fiscal está em queda livre. O IVA caiu 3,2% no primeiro trimestre, por comparação com 2011; o imposto sobre veículos teve uma redução de 47,5%! Ao mesmo tempo, os cofres da segurança social estão a esvaziar-se ao ritmo de três milhões de euros por dia, com o subsídio de desemprego a subir 23%. As contas saíram furadas. As finanças públicas estão a derrapar e sem controlo.

Além do mais, Gaspar falhou as promessas de cortar nas enormes gorduras do Estado, de terminar com os negócios em que o Estado favorece os grupos económicos do regime e de combater a corrupção. Gaspar não renegociou as escandalosas parcerias público-privadas, para não incomodar as concessionárias. Não reestruturou a dívida pública, o que pouparia milhares de milhões, optando por continuar a favorecer os bancos. As finanças nem sequer ousaram reduzir os valores de alugueres e rendas de favor que o Estado paga pelas suas instalações, muito acima do valor de mercado.

Até agora, os únicos beneficiários destas políticas desastrosas são os grupos económicos do regime, que continuam, intocáveis, a lambuzar-se na gamela do Orçamento do Estado. Está pois na hora de mudar de políticas nas finanças e trocar de protagonista.

Por: Paulo Morais, Professor universitário

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/paulo-morais/contas-furadas

Diogo disse...

«Está pois na hora de mudar de políticas nas finanças e trocar de protagonista.»

Não chega! Isto não é uma questão de má gestão. Trata-se antes de um roubo de proporções descomunais.

Os assassinos fazem parte dos grupos económicos do regime (sobretudo os bancos), os políticos a soldo e os comentadores venais. Há que caçá-los, um a um.