sábado, 15 de maio de 2010

Mineiros de Aljustrel

Há muito tempo que não ia ao Alentejo. Tive agora a oportunidade de lá voltar após ter sido convidado para o jantar de encerramento de um congresso nos Jardins do Paço em Évora.
Foi ontem à noite. Eram 23.30h, quando o grupo de cantares dos mineiros de ALJUSTREL entrou na sala.
O jeito a toada e o canto, são aqueles que bem conhecemos e que ao vivo ganham dimensão e sentimento. Na simplicidade das formas e na criatividade das interpretações, as letras são feitas para rimar com a terra e as gentes. Percebe-se em muitas delas as pequenas histórias de uma parte do País ainda desconhecida por muitos, ou mal identificada por alguns, como talvez fosse o nosso caso.
Mais que a sonoridade do canto, dei por mim a identificar a alma de um Povo que eu gostaria que fosse o meu. Aquela era a minha gente. Aqueles são os Portugueses por quem nos batemos nesta Associação. Ontem senti de forma explicita que ainda temos Povo.
Esta gente não faz parte do amorfismo e embrutecimento caracteristico de grande parte da população que se deixou subjugar pelo Sistema instalado e que vive maioritariamente nas grandes cidades ou Zonas limítrofes.
Estes homens de Aljustrel que certamente representam outros de outras partes do País e que continuam a viver á margem dos benefícios e do progresso material, não embruteceram nem perderam o discernimento ou a capacidade de expressarem as suas dificuldades e os seus pontos de vista sobre a condução do País.
Ao olhar para os seus rostos e para os gestos ritmados que iam fazendo, chegou até nós o desabafo de quem sente sobre as costas o ferrete e o estigma, que por vezes amaldiçoava, mas que para eles sempre fora a escolha única e adequada. Serem comunistas.
Por isso foram sendo remetidos para plano secundário, ostracizados, quando apenas queriam e esperavam um pouco mais da vida.
Vendo bem, era natural que fossem comunistas.
Continuando a olhar para eles e projectando a vida diária no fundo de uma mina ou no fundo de desemprego, até era natural que fossem comunistas.
Analisando 35 anos de democracia e promessas de justiça social, até seria compreensivel que os mineiros de Aljustrel fossem comunistas.
Nós ouviríamos na mesma os seus cânticos sem quaisquer condicionamentos.
O surpreendente ou inesperado, foi ouvirmos da boca daqueles homens o mesmo comentário crítico em relação ás medidas restritivas que este Bloco central de interesses vem impondo e que para eles é o prolongar de uma vida de sacrifícios a que já sentem que não irão conseguir escapar.
Mas disseram mais. Disseram, nós não somos comunistas, nem somos nada.
Queriam dizer que os partidos não lhes interessam.
Queriam dizer que não é a ideologia que os move.
Queriam dizer que não estão contra ninguém e que apenas pretendem um pouco do futuro melhor que lhes foi prometido e que nunca chegou. Nem vai chegar.
Quando abracei alguns deles, com algumas lágrimas a escorrer pela face, confesso, senti que aquela era de facto a parte boa de um Povo traído pela nossa cobardia e indiferença.
Eles acabam por ser mais um dos enganos gerados por esta vergonhosa classe política, sobre quem impende a responsabilidade maior de também terem traído as esperanças desta boa gente de Aljustrel.
Ao mesmo tempo são o espelho da traição cometida por um partido que esqueceu a luta de massas, para se voltar para a luta pela massa.
Tudo isto é agora sentido por estes homens simples, afáveis, comunicativos e despretensiosos.
Sabem que estão longe e esquecidos e que a bandeira vermelha já foi guardada no gabinete de algum vereador ou no sossego do parlamento.
Agora precisam e merecem que alguma coisa se faça e sentem que já não será por aqueles que lhes venderam ideologia barata e depois se renderam ao sistema.
Eles ainda esperam que alguma coisa aconteça.
É que ali continua a estar bem representada a "alma" do Povo Português.
E por estes, nós iremos continuar a bater-nos da forma mais vigorosa que nos for possível.

posto por Carlos Luís

Esclarecimento - Para se entender um pouco melhor este post, devo acrescentar:
Por vezes quem está mais perto de nós questiona-nos sobre o porquê da nossa luta, que nos exige sacrifícios e por vezes riscos, quando tantas vezes classificamos este povo como uma massa inculta, amorfa e embrutecida.
Porquê, então, este nosso esforço por quem não o merece. É uma boa questão.
Só que existe uma outra parte, que mesmo sendo minoritária, merece que tudo façamos em prol de uma sociedade mais justa.

4 comentários:

JotaB disse...

Vivi vários anos no Alentejo, tendo o meu filho mais novo nascido em Beja.
Tenho bons e leais AMIGOS alentejanos. Ainda na semana passada esteve em minha casa um casal de amigos, nascidos em Évora.
Um Alentejano não nos abre a porta à chegada, mas entrega-nos a chave da sua casa, quando e se nos julgar merecedores.
Um Alentejano é um amigo para toda a vida.

http://www.youtube.com/watch?v=05OWiJretaE

http://www.youtube.com/watch?v=O4ZoWHOfQQs&feature=related

Diogo disse...

Mesmo esta massa inculta, amorfa e embrutecida, está assim graças ao trabalho dos Media que são financiados para embrutecer.

Mrzepovinho disse...

já agora... fiquem também com as calças!!

http://www.youtube.com/watch?v=RvUiKPZKkZ4&playnext_from=TL&videos=0AoA3Syvn9M&feature=sub

Sábado dia 22 de Maio --> Assembleia da República

Força Emergente disse...

Caros amigos

MrZepovinho, lá estaremos frente á Assembleia.
Diogo, é verdade aquilo que transmite. Depois, tem que se acrescentar a isso todo o sistema de ensino e apoio básico que está implantado.
Mais a estruturação do chamado Estado social, que acaba por gerar ainda mais gente embrutecida, só que um pouco mais gorda.
Acresce ainda o despudorado aproveitamento de factos que tocam as massas, tais como o futebol, o Papa, a Seleção, etc, etc.
Este é agora o grande campo de batalha dos media, financiados pela CML, Governo, Autarquias diversas etc., tal como o Diogo bem refere.
JotaB, ainda nos havemos de encontrar no Alentejo.
Um abraço para todos.