sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Dislexia

Tudo começou na Islândia. No final de 2008 o país entrava oficialmente em bancarrota. A Islândia não pertence à UE apesar da pressão que esta tem feito para que este país aceite as suas duras condições económicas. Esta semana foram considerados - finalmente - culpados da bancarrota um punhado de banqueiros dos dois principais bancos nacionais. Serão julgados. Ficou provado que foram desleixados e que até terão agido de forma meticulosa para provocar o caos económico naquele país. Afinal esta crise é mesmo um plano... Começam-se a descobrir as carecas. Basta investigar um pouco mais fundo...

Por cá, a crise internacional caiu que nem gingas...!!! Despediram-se funcionários sem regra ou lógica, fecharam-se indústrias e empresas sempre com a justificação da falta de liquidez, reduziram-se os ordenados, escravizaram-se e pressionaram-se ainda mais os trabalhadores portugueses. O Governo, enquanto gastava milhões por um lado, aproveitou para lançar PEC's, Planos de Austeridade, aumento de impostos e cortes orçamentais para o povo. Gestores públicos, banqueiros, administradores, esses, aproveitaram para se darem prémios de milhões antes que a economia dê o estoiro final. Tudo justificado oficialmente com a crise internacional que, agora se sabe, foi totalmente fabricada. Mas com que fim?

Porque haveria interesse em fabricar uma crise económica internacional?

Porque é que todos os políticos - nacionais, europeus, de todo o mundo - "aderiram" tão rapidamente a esta crise?

Quem esteve realmente por detrás do plano?

A verdadeira resposta ainda não a conhecemos na pele. Uns dizem que o objectivo é o de rebaixar o poder do povo, acentuando ainda mais a diferença entre ricos e pobres, outros dizem que é simples descontrolo. Certo, certo, é que no meio de tudo isto há uma dislexia que ressalta:

Como é que no meio de uma crise tão grave, a banca europeia escolheu precisamente este momento para aplicar austeridade económica aos cidadãos europeus quando antes, no tempo das vacas gordas, lhes dava milhões para "estoirarem" no que quisessem? Como acabou assim de repente? Não há aqui uma enorme dislexia? Se os objectivos da Europa fossem mesmo criar uma Europa solidária e forte economicamente, não haveria planeamento atempado, moderação, controlo económico, com tantos agentes envolvidos? Os cidadãos seriam a sua primeira preocupação. Mas hoje sabemos que não. A Europa é dos banqueiros e é controlada pelos políticos. Os cidadãos são o mero terminal de uma máquina de cobrança de dívidas, de juros, de taxas, de coimas, de impostos, de despesas, de consumo... Somos células para esmifrar até secarmos, cada um de nós, literalmente até ao tutano.

Só assim se justifica esta DISLEXIA estratégico-política e económica.

A vinda do Papa, neste enquadramento funciona, não como um benefício à economia e à confiança, mas como um maior agravamento da situação dos portugueses. Assim como quando se é convidado para padrinho de casamento, quando não se tem dinheiro para dar uma boa prenda aos noivos. Já pobres e descalços, endividados e hipotecados, tristes e sem perspectivas, os portugueses assistem ao espectáculo papal de 4 dias, num desfile de cerimónias douradas e "cravejadas de diamantes e rubís", cerimónias que nos levaram tudo o que ainda nos restava. Oferecer uma caravela em ouro e prata, forrada a diamantes e diversas outras pedras preciosas e semi-preciosas revela um gigantesco sentido de sacrifício, sacrifício humano entenda-se... Servilismo religioso do mais puro e evangélico.

Economia, Política e Religião uniram-se neste momento crítico, com um sorriso nos lábios, para darem a machadada final a um povo que já nada tem com que se orgulhar ou enobrecer.

Crise, qual crise?
Dislexia, qual dislexia?
Conspiração, qual conspiração?

posto por Pedro Duarte

9 comentários:

Lusitano disse...

..."Como é que no meio de uma crise tão grave, a banca europeia escolheu precisamente este momento para aplicar austeridade económica aos cidadãos europeus quando antes, no tempo das vacas gordas, lhes dava milhões para "estoirarem" no que quisessem?"...

Caro
Pedro Duarte,
Realmente, os banqueiros europeus podem controlar a Europa mas sob ordens e supervisão dos banqueiros americanos e dos seus patrões que foram "eleitos".
Claro, que é preciso recuar muitos anos para perceber o que se passa actualmente, claro, que temos de levar em conta que o Mundo é governado por uma elite maquiavélica e que nós não passamos dos seus peões, claro, que há umas boas dezenas de anos que nos comem como patetas amestrados e impingem-nos aquilo que querem, até a História, é-nos contada como se fossemos idiotas (e somos, porque nem sequer nos obrigamos a pensar sobre certas "verdades"), daí que as pessoas nem sequer tenham a capacidade de pensar um mínimo que seja.
Claro, que existe umamáquina montada para ajudar a esse fim desde a Televisão até a alimentação que é estudada para o embrutecimento da maralha, estas modas das comidas de plástico, chamadas erradamente de "fast-food", e que antes deveriam ser chamadas de "poison-food", acompanhadas por bebidas sintéticas, boas para lavar moedas ou sanitas, não foram lançadas por acaso, sabe-se que elas contribuem não só para a engorda e embrutecimento de quem ingere essa porcaria como até tem a "vantagem", de com os seus elevados indíces de colesterol e matérias gordas, proporcionarem uns valentes AVC's devido à arteriosclerose que provocam, pode-se dizer, que é tudo lucro, lucram com essas "comidas", lucram com as drogas para "tratarem" os efeitos e lucram com os funerais, pois como sabe, até cá no quintal boa parte das agências funerárias são americanas, (até isso).
Já sou velho o suficiente, para me lembrar, que antigamente há 40/50 anos, esse tipo de doenças era muito mais raro, eram mais as do tipo infeccioso e pulmonar.
Claro, que há necessidade de reduzir o tamanho da capoeira, motivado pelo rápido esgotamento das principais matérias primas, inclusive água e petróleo, assim, há que eliminar e em força, boa parte dos galináceos que habitam esta terra de Deus, daí, que tudo o que dê uma "ajuda" é bem vindo até porque as gripes das galinhas parece não serem suficientes nem terem dado o resultado que se esperava, mas, pode o meu bom Amigo ficar descansado, que eles hão-de arranjar maneira de estoirar com este excesso de animais que não servem para nada a não ser contribuir para conspurcar ainda mais o planeta, perturbando dessa maneira, o bem estar dos Senhores "eleitos", que são os verdadeiros donos cá desta pobre esfera perdida no espaço.
Por agora fico-me por aqui, tire as conclusões que quiser,
Um abraço.

LUSITANO

JotaB disse...

Como já vem sendo hábito, aqui deixo o último artigo de Henrique Neto, publicado no Jornal de Leiria:


Crónicas sobre o futuro

Obras públicas e demissão politica do PS

O tema dos grandes
investimentos em obras
públicas dominou o
debate politico das últimas
semanas. O Governo
e em particular o Primeiro Ministro
deixaram-se isolar na defesa
desses investimentos, quando há
muito era evidente a impossibilidade
de os financiar em termos
razoáveis e quando há anos é visível
a necessidade de suster, por
todas as formas, o endividamento
externo, público e privado. Além
disso, é sabido que as obras previstas
não contribuirão para vencer
a crise e não são a via idónea
para incentivar o processo de desenvolvimento
económico do País e
para a criação sustentável de emprego.
Basta pensar que as obras públicas
têm dominado o panorama
programático e financeiro dos diferentes
governos, durante os últimos
vinte anos, que a chamada
política do betão, com resultados
negativos, que são agora mais visíveis
na desastrosa situação económica
e financeira de Portugal,
obriga-nos a reconhecer que essa
não é a solução adequada para os
problemas da economia portuguesa.
Como era previsível, a gestão
desta questão pelo PS, pelo Governo
e principalmente, pelo Primeiro
Ministro, foi desastrosa. Para o
PS, com custos políticos elevados,
mas também com custos enormes
para o conjunto da economia. O
que espero se tenha tornado mais
claro, recentemente, quando José
Sócrates decidiu recuar e o fez telefonando
ao líder do PSD a pedir-lhe
apoio para a decisão. O que
demonstrou, se por acaso ainda
fosse necessário, a irrelevância do
Partido Socialista, dos seus órgãos
dirigentes, dos deputados e dos militantes.
O PS é hoje um partido de
um homem só, em que os dirigentes,
na sua esmagadora maioria,
não estão à altura da responsabilidade
dos cargos, seja porque
muitos têm apoiado os erros e as
omissões do Governo, seja porque
têm contribuído para contrariar,
ou mesmo para eliminar, toda a
critica interna, em particular daqueles
que ao longo dos anos têm
defendido um PS forte, livre e dirigido
pelos melhores e não por
oportunistas e demagogos.

(continua...)

JotaB disse...

As obras púbicas, conforme
foram projectadas, têm erros estratégicos
evidentes: promovem a
mobilidade das pessoas em vez da
mobilidade das mercadorias; o traçado
do TGV é uma verdadeira
traição ao interesse nacional, porque
serve os interesses de Castela
e o centralismo lisboeta, em vez
do desenvolvimento equilibrado
do todo nacional; o conjunto dos
investimentos reforça a solução
rodoviária em vez da ferroviária;
torna realidade o sonho de Castela
de fazer de Madrid o centro
logístico, económico e político da
península Ibérica. Além disso, são
obras públicas avulsas, em vez de
representarem uma estratégia integrada
de desenvolvimento, deixando
de fora o investimento estrategicamente
mais relevante: o porto
de águas profundas para contentores,
que torne Portugal o porto
de “transhipment” dos novos
grandes navios das rotas do Atlântico,
como primeiro passo para
uma estratégia de desenvolvimento
Euro Atlântica. Ou seja, soluções
erradas que deixaram o campo
livre aos objectivos estratégicos
da Espanha e de Marrocos no domínio
do transporte marítimo do
Atlântico, cujo objectivo final é a
atracção do investimento estrangeiro.
Acresce, para além dos malefícios
descritos, a questão das parecerias
público/privadas, a habitual
ausência de projectos de engenharia
qualificados e as resultantes
e sistemáticas revisões de preços,
que enriquecem uns poucos
e empobrecem a Nação. Para mais,
quando quase todos os analistas
da economia portuguesa consideram
que a prioridade nacional
reside nos bens transaccionáveis,
de forma a reduzir a nossa dependência
externa e a criar empregos.
Sempre disse que José Sócrates
representa o pior que existe no
PS e na sociedade portuguesa e
não tem a estatura humana, cultural
e politica necessária a um
primeiro ministro. Representa uma
certa cultura da esperteza provinciana
que sempre existiu entre nós,
que serve bem os grandes interesses
individuais à custa do interesse
geral. E nada melhor para o
exemplificar do que o curioso
exemplo do deputado Ricardo Gonçalves,
elogiado por José Sócrates
e pelo líder parlamentar do PS
Francisco Assis. Elogios infamantes
para a tradição de liberdade e de
qualidade humana e política da
esquerda e do Partido Socialista,
que os militantes socialistas não
podem silenciar. Espero que os
militantes do PS ganhem consciência
do caminho tragicamente
desastroso, para o PS e para a
democracia portuguesa, que é prosseguido
pelo Secretario Geral do
partido e Primeiro Ministro.

HENRIQUE NETO
empresário
netohenrique8@gmail.com

Lusitano disse...

Caros Amigos
da Força Emergente,
Estamos perante uma situação complicada, ainda para mais com estes políticos de polichinelo, que, das duas uma ou são estúpidos ou são hipócritas, dizer hoje que não se mexe nos impostos e daqui a dois dias, vir dizer que tem de os aumentar porque o "Mundo mudou nos últimos 15 dias" (esta não lembra nem ao Diabo, e se nos próximos 15 dias o "mundo mudar outra vez" como é que vai ser???), ora, isto cria um clima de desconfiança que poderá iniciar uma reacção em cadeia descontrolada, aliás, já se vinha notando isso, nomeadamente no abaixamento das vendas e no receio que as pessoas estão a demonstrar, porque já não sabem com o que podem contar no dia de amanhã.
Uma situação de forte retracção poderia levar ao descalabro e ao descontrolo total da situação, para além de anular os esforços agora exigidos.
Quase de certeza, muito mais que o aumento dos impostos por si, foi muito mais perigoso, diria mesmo mortal para esta Economia de vão-de-escada, que a figura principal do Governo, se desdissesse em apenas 48 horas, ainda por cima invocando uma desculpa de mau pagador, não sei se isso resultou da sua habitual falta de jeito e incompetência, ou se se limitou apenas a ser um retransmissor das ordens dos patrões de Bruxelas, de qualquer forma esperem pela pancada.
Mais grave ainda, é o facto do PR nem sequer tossir, parece que está alheado de tudo, ou então, se calhar, tenho de dar razão àqueles que dizem que o senhor sofre da doença do alemão, pois, qualquer Presidente de República, no real e pleno uso das suas funções, tinha feito um discurso à Nação, não para correr com o Governo, que isso ainda era pior a emenda que o soneto, mas para que explicasse o seu ponto de vista e pelo menos dar uma imagem de esperança, uma vez, que Sócrates apenas soube trazer aquele sorriso cínico quando ontem deu aquela conferência de imprensa, aliás, tal como o Sr. Passos que chorou lágrimas de crocodilo ao pedir desculpas aoa país.
Se já não reage, então estamos mesmo muito mal, uma vez que em qualquer regime, quer o PR, quer o Rei nos regimes monárquicos, são sempre a última esperança dum povo, a não ser...que já não saiba o que fazer, e isso é ainda mais grave, pois, quer dizer que o barco anda completamente à deriva, e que os timoneiros simpesmente nunca o foram ou se dimitiram.
Penso, que nos encontramos num beco sem saída, e que nada de bom poderemos esperar.
Espero bem que me engane.
Há que tocar a rebate ou a finados conforme os gostos.
Cumprimentos.

LUSITANO

Força Emergente disse...

Caro amigo Lusitano,


O PR anda a mostrar o Papa aos netinhos. É uma figurinha de estilo da nossa república de fachada. Pedro Passos Coelho só tem metido o pé na argola. Em menos de um mês desde que foi eleito, todas as suas "jogadas" políticas têm sido desastrosas. Por um lado ainda bem. Mais do que uma revolução o que é preciso é retirar eleitorado ao PSD e ao PS, para que não possam ter nova maioria juntos. Isso sim, seria mesmo o fim...

Mrzepovinho disse...

Na 2ª Feira, o PAPA já cá não está... os Telejornais vão precisar de alguma coisa nova para falar... vamos a ver do que se falou nas últimas duas semanas:
- Benfica Campeão!!
- Lista de Convocados para o Mundial!!
- Benfica Campeão!
- Viva Portugal no Mundial!!
- PAPA!!! (chegada)
- PAPA!! (caravela de ouro + Diamantes)
- PAPA! (Missas e Netinhos... que bonito!)
- Papa... (foi-se embora... retrospectiva!)

Pois é... talvez na 2ª feira se fale do aumento de impostos... A Sério... e o POVO vai perguntar (depois de acordar destas duas semanas de alto entretenimento) "mas... a comida e os medicamentos já vão ser mais caros em Juho!?! Deste Ano?!!?"

Pois é... mas não é só isso: A SUA PENSÃO/ORDENADO TAMBÉM VAI SER MAIS BAIXA!!! E já a partir de Julho... DESTE ANO (2010.. sim)

Ainda assim... não é este aumento de impostos que me tira o sono... é o que o nosso Governo nos vai pedir daqui a ... 6 meses? (o mundo mudou muito nos últimos 15 dias... )

Notem bem este artigo da reuters:
German Chancellor Angela Merkel said on Thursday the EU faced an "existential" crisis.

"If the euro fails, not only the currency fails. Europe fails too, and the idea of European unification," she said.

"We have a common currency, but no common political and economic union. And this is exactly what we must change. To achieve this -- therein lies the opportunity of this crisis."
Link: http://www.reuters.com/article/idUSTRE6400PJ20100514

Mas que raio? Eu sou PORTUGUÊS!! Não sou EUROPEU!! Como assim... "Conseguir isto é a grande oportunidade desta cris"??!!?

Sr. Lusitano... Esta é a PROVA que a crise foi CRIADA PELOS BANKEIROS PRIVADOS AMERICANOS para unificar a Europa/Mundo e a estocada final está já a ser considerada: UMA MOEDA MUNDIAL GERIDA PELO IMF!

Notem bem: o Ex PM inglês Gordon Brown já foi colocado no IMF! O seu principal fio de discurso é a Nova Ordem Mundial (New World Order - NWO) e o caminho desta gente é só um (ver acima)!!

O nosso destino está traçado. Vamos todos ser subjugados por esta corja de bandidos, e como as suas armas são financeiras, o taxamento dos pobres para financiar os falhanços dos bankeiros ricos É UMA AGRESSÃO BÉLICA!

JotaB disse...

Acabo de chegar a casa, desanimado, sem vontade para coisa nenhuma. Apenas a revolta cresce dia após dia, assim como o sentimento de incapacidade para mudar o que quer que seja.
Sei que há muitos Portugueses a pensar e a sentir o mesmo que eu. Gostaria que conseguíssemos juntar-nos, para pormos fim a este descalabro, antes que seja tarde demais.
Alguém que lance o grito de revolta. Alguém que os Portugueses conheçam e em quem confiem.

JotaB disse...

Artigo de opinião publicado no Jornal de Leiria:


O p i n i ã o

Para onde vão os nossos impostos?

O País atravessa uma crise.
Grave. Gravíssima,
avisados somos por
aqueles que há anos,
em bandos de abutres
rotativos, tomam conta das finanças
e da economia de Portugal. Os
mesmos que, afinal, nada fazem
para evitar as crises mas somente
para nos comunicar, solenemente,
que elas, as crises, estão a chegar.
Sempre a chegar!
E é assim que, neste mundo de
capitalismo liberal à solta, o mexilhão
está sempre a lixar-se. Vem
crise, paga! Sai da crise, nada ganha!
Outra crise, volta a pagar…e assim
sucessivamente.
Este é o modelo de sociedade,
agora socialista também ao que
parece, que privatiza os lucros mas
nacionaliza os prejuízos. Já repararam
que, quando uma empresa
pública ou para-pública tem lucros
fabulosos, os louros (leia-se salário
e prémios, também eles maravilhosos)
vão direitinhos para os
bolsos dos gestores? E que quando
as empresas dão prejuízo logo
as culpas caem nas costas dos trabalhadores,
assacando-se-lhes,
num ápice, falta de produtividade?
Falam-nos agora em novo
aumento de impostos. Em corte
no subsídio de Natal. Em aumento
de IVA. Em apertar o cinto. Mais
uma vez.
“Mas afinal para onde vão os
nossos impostos”, questionava-
-se há dias um amigo meu? Julgava
ele, tal como eu e o leitor,
que serviriam para uma justiça
recta e célere, ao serviço dos cidadãos;
para uma educação pública
de qualidade, com segurança e
autoridade nas escolas, aprendizagens
seguras, construindo gente
capaz de ser o futuro de Portugal;
para um serviço de saúde que
apoiasse quem dele precisa nas
horas de aflição; para um funcionalismo
público e governamental
ao serviço do cidadão; para o apoio
às empresas nacionais, na procura
da colocação da excelência dos
seus produtos ou dos seus serviços;
para uma política de desenvolvimento
integrado que colocasse
o interior com capacidade
para se auto-sustentar, fixando
gentes e mais-valias; para uma
política de desenvolvimento ferroviário
realista e capaz de tornar
Portugal mais perto do que longe;
para uma política de igualdade,
que fosse eliminando as assimetrias
entre regiões e pessoas;
para uma visão da cultura como
instrumento de desenvolvimento
económico e social; para uma prática
política e parlamentar que significasse
alargamento da democracia
e maior participação na vida
comunitária.

(continua...)

JotaB disse...

Mas, afinal, para onde vão os
nossos impostos?
Os tribunais estão cheios de casos
por resolver, alguns, nem nomes
preciso de mencionar, há quase
uma década. Outros ameaçam prescrever;
outros são, estou certo, cirurgicamente
“prescritos”. Os que chegam
ao fim são iguais ao do caso
do idoso que não pagou a multa
de automóvel e foi para a prisão.
Os outros, aqueles, os tais, esses
nunca chegarão ao fim, muito
menos a condenações; na educação,
para além da falta de autoridade
dos professores, os alunos
continuam a faltar sem que essas
faltas signifiquem um redondo
chumbo. Como se vê, estamos
perante um modelo incoerente para
aqueles que estudam e participam;
os serviços de saúde mandam-nos
ir ter filhos a Espanha; o funcionalismo
público está cheio de boys
(basta relembrar as nomeações
governamentais) e centra a sua
actividade nos favores ao partido,
como se vivêssemos num estado
fascistóide; exceptuando as empresas
do regime, as outras vivem dias
de agonia, com apertos e mais apertos;
o tgv, afinal agora mais curto,
vai fazer o favor de complementar
a linha de Madrid, em vez
de se apostar na modernização das
linhas de média velocidade que
aproximassem todo o País. Um país
díspar e incerto, onde crescem a
pobreza e a desigualdade: o salário
mínimo, muito mínimo, comparado
com os milhões que os boys
e girls do partido levam por mês é
uma afronta à igualdade que sempre
desejámos, é um ultraje à comunhão
de esforços que um país decente
devia propor aos seus cidadãos;
a cultura é palco de disputas; a
vida parlamentar é de lamentar:
as leis são mal feitas, obscuras e
capciosas, destinadas a que pelas
suas brechas os poderosos consigam
passar pelo buraco da agulha;
os deputados, ou desviam gravadores
de jornalistas, ou querem
que lhes paguemos viagens até
Paris. Não há pachorra para tanta
falta de vergonha.
Por isso, no momento em que
os “avisadores de crise” nos propõem
aumento de impostos pergunto
eu: este esforço é para todos
ou, como de costume, são os mesmos
a pagar a crise? Será que António
Mexia, gestor de uma empresa
monopolista, continuará a ter
prémios imorais de 3 milhões e a
ganhar mais do que os presidentes
da Microsoft (Steve Balmer) e
da Apple (Steve Jobs)? E os outros
como ele?
O capitalismo selvagem provoca
as crises e depois obriga-nos a
pagá-las.

FERNANDO JOSÉ RODRIGUES
professor, escritor