terça-feira, 23 de março de 2010

Burgueses do Mundo, Uní-vos !

«A expansão das classes médias nos países emergentes avança a um ritmo vertiginoso. O crescimento económico suportado por muitos países populosos está a impulsionar a ascensão social de grandes massas. Mais de 1.840 milhões de pessoas vivem já em lugares cujo rendimento per capita é de 10 a 100 dólares por dia, segundo um estudo publicado recentemente pela OCDE. Em 2000, eram 1.360, apenas 140 milhões mais relativamente a 1992, esclarece Homi Kharas, economista autor do estudo. Utilizando outros parâmetros, alguns analistas calculam que metade da população mundial pertence à classe média.

Muitos analistas e políticos relacionam a esta histórica e assombrosa ascensão social, a esperança de uma expansão e consolidação da democracia e das liberdades civis. No Ocidente, em séculos passados, foram precisamente as classes burguesas o corpo e a alma do desenvolvimento liberal. No entanto, após uma etapa de crescimento notável no princípio dos anos 90, o número de democracias de todo o mundo é hoje o mesmo que em 1995: 116 (segundo a prestigiada Freedom House, instituição fundada em 1941 com sede em Washington).

Depois de uma década de desenvolvimento, as classes sociais médias de países tão importantes como a China ou a Rússia continuam a parecer mais consentâneas com regimes autoritários que garantam estabilidade, que ansiosas por conquistar novas áreas da liberdade. Por que não seguem os passos dos seus antecessores ocidentais?

"Estas novas classes médias dos países emergentes são, no entanto, frágeis e temem a instabilidade. Estão dispostas a aceitar regimes autoritários que ofereçam ordem, em troca de que isto não seja prejudicial, por excesso de corrupção e clientelismo, à sua ambição de progresso social, à sua aspiração de competir em igualdade de condições e ao seu desejo de transmitir aos seus filhos um futuro melhor", segundo a opinião do historiador britânico Lawrence James, autor de "The middle class: a history". Segundo ele, empregados de escritório e profissionais chineses, russos ou vietnamitas devem sentir agora algo muito parecido ao que muitos espanhóis sentiram nos anos sessenta.

Os neoburgueses, contudo, têm um potencial obstáculo à posteriori no percurso da plenitude democrática e relativamente ao Estado de Direito. As burguesías ocidentais que acumularam regime atrás de regime são agora corpos sociais dotados de uma profunda espinha dorsal , que tiveram a sua raíz no pensamento grego e no direito romano, seguindo depois a Carta Magna înglesa, o Renascimento e a Idade das Luzes, culminando nas revoluções francesa e americana. A falta deste percurso poderia complicar a "viagem" destes novos burgueses.

Uma sondagem do Pew Global Attitudes Project publicada no ano passado oferece dados interessantes sobre este tema. O estudo, centrado em 13 países emergentes, sugere que as suas classes médias desejam com mais vontade do que os seus cidadãos mais pobres, o estabelecimento da democracia e o respeito pela liberdade. Na Rússia, por exemplo, 51% da classe média acredita que é "muito importante" que as eleições sejam transparentes. Apenas 37% da classe pobre pensa assim.

"O desenvolvimento económico é naturalmente um aspecto de importância fundamental, mas não é tudo. A carga cultural é igualmente importante", considera Richard Wike, director adjunto do Pew Global Attitudes Project, em Washington. "O desenvolvimento facilita e suporta a democracia, mas não a garante".

"A herança cultural tem a sua importância", argumenta James, "e alguns países emergentes contam com a semente dos valores do Estado de Direito sedimentados desde a época colonial. No entanto, para que se produzam impulsos contra os diversos regimes dispostos a utilizar a força são necessários pontos de ruptura. Um caso típico é a excessiva corrupção de um regime, que afecta a vida quotidiana, impede os negócios e despoleta revoltas", refere James. É significativo recordar nesta perspectiva o actual esforço do Kremlin e do Partido Comunista chinês para reduzir a corrupção local.

Com inteligência, muitos regimes reduziram os seus pontos de conflito com essas classes, que podem arrasá-los com a força de uma onda. O êxito da fase de expansão da democracia na Europa de Leste depois da queda do muro de Berlím - na qual o número de países democráticos passou de 76 a 118 entre 1990 e 1996 - foi um abraço desejado durante décadas de opressão e miséria. Agora, uma mistura de crescente bem-estar e formas de controlo menos opressivas podem garantir aos regimes autoritários que as classes médias fiquem mais calmas no plano político.» (in, Jornal El País, 18.03.2010)

3 comentários:

JotaB disse...

As comissões de inquérito da Assembleia da República pouco têm contribuido para o apuramento da verdade.
Como eu desejaria que, desta vez, tudo ficasse esclarecido.

Artigo de Henrique Neto, publicado no Jornal de Leiria de hoje:


O PS e as Comissões de Inquérito
O PS e o primeiro ministro
estão claramente
receosos do inquérito
sobre o caso TVI, que
vai ter início na Assembleia
da República, receio que está
na origem da histeria de algumas
intervenções públicas, acusando
tudo e todos em antecipação daquilo
que aparentam recear possa chegar
ao conhecimento público. Por
isso insistem que a Comissão é um
ataque partidário ao PS e à honorabilidade
de José Sócrates, mas
fazem-no na base de um sofisma,
para não dizer de uma mentira:
de que já tudo teria sido esclarecido.
Ora, a verdade é a de que até
agora nada foi esclarecido e essa
é a razão que justifica a Comissão
de Inquérito.
A história das comissões de
inquérito da Assembleia da República,
com algumas excepções, não
é muito digna. Pessoalmente, participei
em duas dessas comissões
e saí de lá descrente da seriedade
do seu funcionamento e a votar
o relatório final com o CDS, contra
o meu próprio partido, que tudo
fez para que a verdade ficasse
escondida nos casos da privatização
do BPA e da venda do Banco
Totta aos espanhóis. Recentemente,
assisti pela televisão a algumas
sessões das actuais comissões e
pude verificar que os deputados
continuam a não fazer o trabalho
de casa, deixando-se enredar na
melhor preparação dos inquiridos
e, principalmente, dos profissionais
das assessorias que estes utilizam.
É particularmente chocante
que muitos dos que lá são interrogados
pelos deputados, se valham
do seu melhor conhecimento dos
casos em disputa e da vivência do
meio em que esses acontecimentos
tiveram lugar, para amesquinhar
os deputados e com eles o
Parlamento, quase sempre através
de um mal disfarçado paternalismo.
Infelizmente, é raro que os
deputados, na defesa da instituição
parlamentar, os coloquem no
devido lugar.
(continua...)

JotaB disse...

No caso recente da Comissão
de Ética, muitos dos inquiridos
mentiram à Comissão com a maior
das naturalidades, mudaram a sua
história mais do que uma vez, utilizaram
à saciedade o segredo profissional
e as supostas regras das
empresas que dirigem, para fugir
às poucas questões verdadeiramente
importantes, sem que os
deputados tivessem sabido utilizar
isso a favor da descoberta da
verdade. Em particular, no caso
dos dirigentes da PT, estes nunca
foram confrontados com os graves
prejuízos provocados à honorabilidade
da empresa, ou sobre a
incrível possibilidade de se estar
a proceder à negociação de um
investimento de mais de cem
milhões de euros, sem que o assunto,
de dimensão claramente estratégica
e com reconhecidas implicações
políticas, tivesse passado,
segundo os inquiridos, pelo conhecimento,
discussão e aprovação
nos órgãos próprios da empresa.
Chegou-se ao ponto do Presidente
da PT ter confessado à comunicação
social ter sido “encornado”,
o que negou a seguir na Comissão,
bem como o facto da sua
memoria ter sido vitima de um
providencial erro de datas, o que
permitiu a José Sócrates manter
a versão de que não conhecia as
intenções da PT em comprar a
TVI e mandar Manuela Mouras
Guedes para casa.
Já aqui escrevi que na história
da República Portuguesa nunca
existiu um político, para já não
falar de um primeiro ministro,
com tantos casos duvidosos por
esclarecer, muitos deles envolvendo
a Justiça, como José Sócrates.
Acreditar, como o PS faz, que
tudo não passa de cabalas das oposições
e dos inimigos do PS e do
primeiro ministro, só pode revelar
uma séria imaturidade, ou uma
enorme falta de seriedade intelectual
e política. Para quem leu
as escutas publicadas nos jornais,
ou comparou minimamente a correlação
entre as diferentes intervenções
dos protagonistas visados,
ou atentou ao passado de cada
um dos intervenientes, não restam
muitas dúvidas de que o primeiro
ministro e o PS estão solidariamente
metidos numa embrulhada
de enormes proporções.
Esclarecer tudo o que se passou
nos diferentes casos em investigação
é um bom serviço prestado
à solidez da democracia portuguesa
e o facto de José Sócrates,
aparentemente, não estar interessado
em o fazer, ou deixar fazer,
é causa suficiente de forte preocupação.
_
HENRIQUE NETO
empresário
netohenrique8@gmail.com

JotaB disse...

A propósito deste artigo do SOL…


“Face Oculta
Sócrates e Vara falavam em código
Por Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita
Numa conversa telefónica interceptada pelos investigadores do processo Face Oculta, a 6 de Agosto de 2009, já depois de Armando Vara saber que estaria sob escuta, José Sócrates e Vara falam numa estranha linguagem cifrada. O SOL reproduz a conversa na edição desta sexta-feira “


…vejamos estes comentários:

“Quem é que ainda acredita nas duas jornalistas que se dedicam à pesca de tricas? Se elas fossem sérias na sua informação, dedicavam-se a nobre missão de informar com isenção e mais seriedade. É por isso que não compro nem incentivo à aquisição deste jornal em papel!!”

“Este "jornaleco", assumido "pasquim" da oposição não desiste!!!
Ainda bem! A maioria da população já percebeu a estratégia e como este assunto já cheira mal, não tenho dúvidas de quem vai "capitalizar" é o Sócrates!
Falam de corrupção? Porque não falam de competência?
O Isaltino é corrupto? Talvez....mas é o melhor Presidente de Cãmara deste País!O Sócrates é corrupto? Talvez....mas é o que tem melhores características para desempenhar um cargo de PM!
Quem pode afirmar que os "meninos de côro" candidatos a presidentes do PSD, não são corruptos? Não sabemos...mas sabemos uma coisa - Não têm perfil, nem capacidade, nem experiência, nem coragem, nem determinação para poderem competir com o Sócrates na condução deste País!Pobre País se algum dia aceitar ser gerido por "criançolas" como estes em que os seus maiores êxitos e aptidões são a colagem de cartazes ou a vitória numas eleições a "que ninguém liga" e em que o candidato vencido era tão fraco, tão fraco que tem que se admitir que foi escolhido para perder e dar um falso alento à oposição!
Senhores jornalistas, melhor dizendo...senhores pseudo-jornalistas...tenham juízo! Já ninguém liga a essas estórias da falta de liberdade de expressão, porque liberdade de expressão não é poder dizer-se o que se quer! É poder provar inequívocamente o que se diz...
Se os "palhaços" da oposição derrubarem este Governo, tenho a certeza que o Sócrates irá ter outra maioria!”

“Lá estão os incompetentes dos jornistas do Sol todos eles pagos pelo governo mais corrupto do mundo, entenda-se Angola, a querer vender mais umas edições desta folha de papel mal cheirosa.Mandem a Felícia e todos os outros incompetentes deste jornal trabalhar para o José Eduardo dos Santos e receberão o seu ordenado à custa da misério do povo de Angola. Denunciem o que se passa num dos países mais ricos do mundo. Vocês jornalistas do Sol, são todos uns oportunistas e vendidos ao poder corrupto.”

“O proceso face oculta está a provocar verdadeiras orgias intelectuais na direcção e redacção do semanário SOL.
- A intriga, o mal-dizer, a desgraça têm vendas garantidas.”

Com gente assim, os vigaristas podem continuar descansados…e Portugal não terá futuro.