terça-feira, 2 de junho de 2009

A engorda dos tubarões

Quem paga é o mexilhão

Como prejuízos privados de 3.200 mil milhões se transformam em prejuízos públicos ou como os mexilhões pagam a engorda dos tubarões
Dias Loureiro é Conselheiro de Estado.
Sócrates também.
Dias Loureiro é apontado como alguém que pode ter praticado actos ilícitos na gestão de coisa privada.
Sócrates é apontado como alguém que pode ter praticado actos ilícitos na gestão de coisa pública.
Dias Loureiro, segundo as autoridades deste país, não é suspeito nem arguido em nenhum processo.
Sócrates também não; no entanto, para as autoridades inglesas, é suspeito.
Dias Loureiro foi sujeito a muitas e fortes pressões, inclusive por parte do PS, para que se demitisse.
Sócrates nem tanto.
Dias Loureiro apresentou a sua demissão.
Sócrates não.
Sócrates, o “Menino d’Ouro” tão elogiado por Dias Loureiro, não se sabendo porquê (?), transformou as responsabilidades privadas causadas pelos presumíveis actos ilícitos praticados por Dias Loureiro & Cº em responsabilidades públicas.
Não está aqui a faltar alguma coisa?

Agora, segundo os meios de comunicação social, o Presidente da República e alguns dos seus familiares aparecem também ligados a algumas transacções menos claras com a SLN proprietária do BPN.
O Presidente da República foi quem nomeou Dias Loureiro para o Conselho de Estado a que ele preside.
Dias Loureiro e Oliveira e Costa (este constituído arguido) fizeram parte dos governos presididos por Cavaco Silva; eram homens da sua confiança e fundamentais na angariação de fundos para o financiamento do PSD.
... no meio disto tudo desapareceram 2.000 milhões de euros que o Zé vai ter de pagar...

Entretanto, ao lado, havia um banco “privadíssimo” que se dedicava quase exclusivamente à gestão de fortunas privadas; com grande sucesso, dizia-se; o seu presidente até se preparava para publicar um livro onde, para além de se auto-elogiar, iria explicar as razões do mesmo.
De repente, com a “crise”, PUMBA!, foi ao ar e parece que não caiu nada bem.
Do alto da sua cátedra, o “Solha”, mais conhecido como “o pior ministro das finanças da UE”, logo declarou que o mesmo devia ser atirado aos bichos.
Só que há bichos e BICHOS... e parece que entre os accionistas e depositantes haviam bichos bem graúdos, empresários e políticos, que tinham engordado bastante à custa da “fabulosa” gestão de um tal Rendeiro & Cª.
Todos nós temos dias assim... provavelmente por o vento ter mudado ou por um qualquer conselho dado pela Maya devido à mudança na conjugação dos astros, o Teixeira mudou de opinião; o polegar que estava apontado para baixo passou a apontar para cima e, qual Nero, decretou: “Salve-se o Banco!”
E o banco foi salvo... apesar de se ter entretanto ficado a saber que era uma espécie de D. Branca, pirâmide dos ricos.
Mas não pensem que foi por causa do cardume de tubarões liderados pelo Rendeiro, Balsemão & Cª que tal aconteceu.
Como todos sabem os tubarões são insaciáveis e às tantas a comida começou a escassear; sorte deles que a repercussão do festim tivesse levado chernes e garoupas a aproximarem-se; primeiro timidamente e cautelosos, ao longe, só observando; depois, atendendo aos acenos que lhes começaram a ser feitos, foram-se acercando, mais perto, mais perto; e quanto mais perto estavam, olhando os tubarões e tubarõezinhos gordos e lustrosos, mais gulosos ficavam; mas não sendo deles aquelas águas e temendo perigos escondidos receavam dar o último passo; o que os decidiu foi o canto da sereia que lhes afirmou que “a engorda era assegurada mas, caso improvável e muito remoto, tal não acontecesse, não sairiam mais magros”.
E foram os chernes e as garoupas, depois pescadas e peixes-espada, douradas e cavalas e por fim até fanecas com as sardinhas também a aproximarem-se... e, uns mais outros menos, lá iam inchando todos!
Mas... como não há Sol que sempre dure, um dia, dizem eles que por causa da “crise”, os pequenos mais os pequeninos, acordaram com a barriga quase encostada às costelas.
E, palavra de “Solha”, foi a salvação do peixe miúdo que o levou a mudar a decisão.
A nós, petingas, se qualquer coisa de mal acontecer com o nosso banco, só nos garantem um reembolso máximo de 25.000 euros.
A nós, petingas, a reposição no lugar dessas panças vai custar-nos, para já, 1.200 milhões de euros, que divididos pelos 2.200 pequenos (?) depositantes darão qualquer coisa como 546.000 euros a cada; vão imaginando quanto nos vai custar quando chegar aos grandes.
O BPP, como qualquer banco, tem uma estrutura hierárquica que começa em quem atende e acaba no conselho de administração; havendo 2.200 pessoas a reclamar terem sido vigarizadas deveria haver naquela estrutura pelo menos um “vigarista”... não foi encontrado nenhum!
Desde o Rendeiro até ao Chico do balcão, é tudo gente séria e honrada!
Mas não encontrar culpados neste país é coisa normal; lembram-se do “caso do fax de Macau”? Houve um corruptor sem corrompido e, ainda há dias, provou-se que a mãe da Joana foi agredida sem que houvessem agressores!
Lembram-se, nos anos 90, das falências fraudulentas das Caixas Funchalense e Faialense em que milhares de emigrantes perderam o pecúlio acumulado de uma vida, ficando na miséria? Aqui, apesar de enganados, roubados, tiveram que acarretar com o prejuízo; ninguém foi preso porque os processos, no qual estavam acusados algumas figuras gradas e até ex-governantes se foram arrastando até à prescrição.
Lembram-se das falcatruas do BCP que causaram importantes prejuízos aos pequenos investidores? Culpados, houve?
Enquanto tudo isto se passou e vai passando, há um “Vitinho”, o terceiro mais bem pago do mundo na sua função, sentado no seu milionário vencimento, olho na reforma dourada que o espera, assobiando para o lado...
E o Zé-povinho vai pagando isto tudo... paga os ordenados e benesses das Suas Excelências bem assim como as roubalheiras com que pactuam!
Zé Muacho